3.2.09

Terça-feira, 3 de Fevereiro de 2009

Meu querido diário, o meu dia de hoje foi normal. Acordei com uma grande vontade de fazer chichi. Comecei a brotar as belas gotinhas quando...oops...uma dor na barriga. Passei da posição vertical para a posição verticalo-sentado. Diagnóstico: uma forte má formação das fezes. Diria que, se compararmos o que vi ao ciclo da água, posso afirmar que após a ingestão dos alimentos, no dia anterior, em vez de se dar a solidificação dos mesmos no interior do meu intestino, aconteceu a fusão. Cerca de 20 minutos no belo trono tiraram-me tempo ao pequeno-almoço. Tomei banho e a dor de barriga persistia. De seguida, peguei numa barra de cereais, num leite chocolatado e lá fui para o trabalho. Enquanto conduzia fui comendo a barrinha, qual ratito Ratatui. A meio do percurso comecei a beber o leite. Em 3 goles acabei com o mesmo. A dor de barriga, que até já tinha amenizado, voltou a aumentar e eu, contorcido, a conduzir. Verifiquei a data do leite e também verifiquei que este se encontrava fora do prazo. Contorcido, a conduzir, com dor de barriga e um banho mal tomado. O dia começava de feição. A 4 Kms do trabalho deparo-me com um distribuidor de jornais gratuitos. Aproveito sempre a oferta. A aproximação àquele pequeno homem, vestido com uma capa laranja, perto daquele semáforo vermelho, foi lenta. A uns 3 metros daquele homenzinho, uma nova pontada na barriga. Desta vez mais forte que nunca. Perdi o tino às mãos, guinei o carro e só ouvi um pum. Não foi um pum da minha barriga. Foi outro tipo de pum. Parei o carro e saí. O homem dos jornais estava estendido no meio da estrada. Fui ajudá-lo de imediato, mas nem tive tempo. Quando se apercebeu da minha presença ali tão perto, fora da minha fortaleza de metal, começou a correr na minha direcção, a mancar. Fui recuando sempre a ouvir a mesma frase. "Sacana! Estragaste-me a vida! Como vou agora fazer a Volta?!" De início não percebi. Só depois soube que o rapaz era um suposto ciclista que ia fazer na Sexta-feira uma prova de ingresso numa grande equipa, para fazer a Volta a Portugal. Ia, já não vai. Perante a fúria do homem, corri e fugi. Deixei o carro, deixei a carteira, deixei uma fila de 5 Kms, no centro da cidade. Cheguei ao trabalho a suar, cheio de medo e com uma enorme dor de barriga. O que fariam ao meu carro? O homem ia perseguir-me o resto da vida dele? A polícia ia entrar no meu trabalho para me prender? Não sabia de nada e acalmei. Sou distribuidor de pizzas. Ando o dia inteiro a furar pelo meio do trânsito. Poderia fugir da polícia durante umas horas. Pela primeira vez na vida, dei graças pelo santo trabalho que tenho.

Primeira encomenda: 11h da manhã. Que raio de pessoa come pizza a essa hora? Algum gordo, possivelmente. Peguei na redondinha de pepperoni, entrei na minha motinha, olhei em meu redor e nada...não havia sinal de polícia. Passei do local de atropelamento e já não havia sinal do meu carro, nem do homem dos jornais, nem da multidão que ali se tivera juntado cerca de uma hora antes. Fui à casa do gordo. Vivia no 5º andar direito. Toquei à campaínha, disse-me para entrar pelo intercomunicador. Normalmente fico na porta à espera que o cliente me venha pagar. Desta vez a porta estava entreaberta. Ouvi ao fundo "pode entrar!". Entrei no hall e continuei sem ver sinal de vida. Ouço um novo "entre, entre!". Passei por uma porta escura e deparo-me com um homem de meia-idade, com um ar duvidoso, vestido de robe e, o pormenor mais importante, uma pistola apontada na minha direcção. Fiquei apavorado, tremi, levantei os braços e a pizza caiu, tendo a caixa aberto e o pepperoni caído directamente num belo tapete branco que decorava a divisão. "Ah malandro, sujaste-me o tapete!". Ao dizer-me isto, deixou cair o revólver e um novo pum. Desta vez foi o meu intestino. Mas, logo de seguida um novo pum. Foi a pistola do senhor. Ao cair no chão, o revolver disparou acidentalmente. A bala bateu-lhe numa perna, mesmo na anca. Aproximei-me do homem, peguei na arma, ainda peguei na arma mas fiquei com medo. Voltei a pousá-la ao lado do homem, enquanto este soltava "ais" e "uis". Fugi do apartamento em alta velocidade. Regressei à pizzaria.

Quando começo a ver a entrada do restaurante, vejo também uma luzes azuis a reflectir naquelas belas letras vermelhas. Era a polícia. Quatro carros da polícia. Parei a mota, abandonei-a e corri a pé 3 Kms até uma bomba de gasolina, para comprar cigarros e esconder-me. Ninguém suspeito, sem sinal da polícia, pedi os cigarros e aproveitei para tomar café numas mesinhas altas que lá havia. Quando me preparava para dar o último gole ouço um ruidoso "Tudo para o chão! Tudo com as mãos na cabeça! Ninguém pia!". Pensei "Pronto, estou lixado.". Deitei-me no chão. Quando levanto ligeiramente a cabeça, a minha surpresa foi geral. Não era a polícia, mas sim um assaltante daqueles que vejo nos noticiários, com pistola e tudo. Vi ali a minha oportunidade para ser o herói do dia. Como estava perto dos refrigerantes, peguei numa lata de Guaraná, fiz pontaria e mandei em direcção ao assaltante, que já estava a apoderar-se do dinheiro da caixa. Má pontaria a minha. Acertei no empregado da bomba, que caíu redondo no chão. Fiquei branco e sabia que aquele seria o momento da minha própria morte. Mirei o assaltante, ele olhou-me já com um olho fechado a fazer pontaria e pum...peidinho e outro pum...o disparo da pistola do polícia que acabara de entrar na bomba. O assaltante morreu de imediato. Não tenho pena nenhuma.

A polícia estava a minha procura. Em vez de me prenderem, levaram-me para a esquadra para um interrogatório. Começaram por me dar os parabéns. Não entendi o porquê.

O entregador de jornais não era realmente o que fazia crer. Para certos automobilista, além do jornal este homem distribuía uns saquinhos com pó branco. Pega a nota, dá o jornal e o saquinho. Um negócio lucrativo, feito ali às claras. Após o atropelamento, os enfermeiros que ali se deslocaram detectaram os saquinhos na bela capa do senhor. Ah, e não era ciclista! O homem foi preso e eu, para a polícia, fui declarado herói nacional. O meu carro foi apreendido e vou vendê-lo para ajudar a pagar os curativos do homem da bomba. Traumatismo craniano. Quanto ao homem do apartamento era um tarado qualquer que passava a vida a comer pizzas de borla. Nunca entendi o porquê de nunca ter sido denunciado pelos outros entregadores de pizza. Era o medo, certamente. O homem tinha um ar medonho e os estafetas preferiam pagar as pizzas dos seus bolsos e manter-se em silêncio do que denunciar aquela situação. O homem foi preso e a arma encontrada. Por sorte não tinha as minhas impressões digitais. Estava com as luvas da mota quando peguei na pistola.

Fui solto e dispensado do trabalho na parte da tarde, ajudei na captura de 2 homens perigosos e continuo com a minha dor de barriga. Vou aproveitar para terminar o dia como comecei. No trono verticalo-sentado.

Que isto sirva de lição. Mesmo quando o dia te parece horrível, não te queixes. Há pessoas sem comida no prato e sem se mover da cama. Matar um, atropelar outro, estar com diarreia...coisas banais que podem dar origem a um belo dia!

2 comentários:

Fallen disse...

Kakakakakakakakakakakakakakaka...Fiquei com um caimbra nas bochechas de tanto rir... :)

Anónimo disse...

És o maior Jorgão, curti largo bué totil o teu texto!!